Eles
estavam casados há dois anos. Ainda na faixa dos 30 anos, ambos queriam que
tudo desse certo. Ela era uma mulher bonita, elegante, séria e mentirosa. Ele,
bem- sucedido na empresa, dedicado, honesto e preocupado.
Ela não pisava os pés na
cozinha, a não ser para colocar alguma comida pronta no microondas. Detestava
faxina. O marido, por sua vez, cozinhava, cuidava da casa e atendia as
necessidades da esposa:
— Você precisa do meu cartão de
crédito?- perguntava o homem solícito.
A mulher detestava ser
sustentada por um homem e por isso não aceitava o cartão ou qualquer dinheiro
que viesse dele. Ele preocupava- se com a independência dela, afinal, queria
sentir que ela precisava dele. Os dois quase não conversavam, apenas faziam
pequenos pedidos como pegar um refrigerante na geladeira, fazer compras ou usar
o carro de um. O sexo era morno: escondiam- se nas entranhas dos lençóis para
sentir que tudo andava bem. Não tinha essa historinha de “meu amor pra cá”,
“meu amor pra lá”, “minha fofinha”, “meu lindo”, “minha princesa” ou o mais
clichê: “Você é o amor da minha vida”. Da única vez em que o homem tentou
chamá- la de “meu queijinho, por você eu me derreto”, a esposa olhou- o com uma
cara de vilã da novela das oito. Falando em novela: ele adorava. Ela detestava.
Preferia um filme de ação.
E por aparentarem serem tão
diferentes se amavam. Embora nunca falassem, nunca evidenciassem essa paixão,
nem mesmo na junção dos seus corpos. Mas tinham medo de que um dia se
separassem. Um dia a mulher caiu na bobagem de assistir um filme romântico que
ele tanto gostava. Terminado o filme o homem olha para ela e diz:
— Vamos discutir nossa relação?
A esposa se contorceu por
dentro. Apenas disse que não, que estava na hora de assistir seu jogo de
futebol. Eram distantes, mas queriam fazer parte um do outro. Ele num cômodo,
ela em outro.
O homem pensava: “Vou para a
cozinha por causa dela”, “vejo essa novelinha ridícula por causa dela”, “detesto
novela, pensei que toda mulher gostasse”, “estou perdendo meu jogo de futebol”,
“não bebo por causa dela”, “será que ela não percebe?”
A mulher pensava: “Poxa... já vi
quase todos os filmes de ação por causa dele”, “perco todos os dias minha
novela por causa dele... e é justamente ele que quer ver?”
O fato é que cada um era o que
pensava que o outro fosse, bem como seus gostos pessoais. Queriam agradar- se,
queriam fazer dar certo, pois se amavam. Ele não agüentou. Ela também não.
Separaram- se sem dizer nada, sem tentar reconciliação, sem brigar. Ela não
queria magoá- lo. Ele a mesma coisa.
O que duas almas não fazem por
amor.
'' Da única vez em que o homem tentou chamá- la de “meu queijinho, por você eu me derreto”, a esposa olhou- o com uma cara de vilã da novela das oito."
ResponderExcluirkkkkkkk.
O melhor de brigar é poder fazer as pazes! Eles não sabem o que estavam perdendo...
Abs.
Muito bom!! Caramba! Nota 10! Serio, parabéns!
ResponderExcluirUm dos melhores seus que ja li.
Acho que já li esse texto em outro lugar... Sempre é bom lê-lo, ele continua tão atual. Bom demais!
ResponderExcluirFoi sim. Deve ter sido no meu antigo blog.
ExcluirEu acho q tinha até um comentário seu.
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