sábado, 26 de novembro de 2011

Ainda encontro um jeito de colocar um aço firme sobre minha alma.
Jamais, responde ela.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pais e filhos

“É preciso amar as pessoas como se...” Não! Não é aquela música do Renato Russo. O assunto é mais profundo. Profundo como um copo de Yakult. O relacionamento entre pais e filhos.

A mulher engravida, fica com aquela barriga que mais parece uma melancia, arruma o quartinho do bichinho, dá nome, oferece os seios para amamentá- lo. E após nove meses, nasce. Jurema e Julião nasceram. Gêmeos! Quanta alegria!

A mãe coloca cinta para perder rapidamente a barriga, o pai troca a fralda, canta lindas músicas do KLB, o casal fica noites e mais noites sem descansar. Mas, não tem problema, a felicidade reina neste lar.

Passam- se três anos e Jurema e Julião já falam. Que gracinha! “Eu se morri”, “Eu se caguei”, a descoberta da nossa adorável Língua Portuguesa. Os pais levam os filhos ao shopping e o menino queria o relógio do Ben 10, mas papai disse que “hoje não”. Pronto. A criança grita, se esperneia no chão, o casal passa vergonha perto da praça de alimentação e o pai carrega o filho aos berros. Doce comunhão!

Dois anos se passaram, eles já têm cinco anos. Quanta maturidade! A família vai almoçar no restaurante. A mãe pede arroz, feijão, purê e batata frita para os filhos. Toda criança gosta. Jurema diz: “Ai, não gosto”, “ai, não quero”. Quem sabe um filé de frango: “ai, não gosto”, “ai, não quero.” O pai interrompe e diz: “Ou você come isso ou passa fome”. E a menina, o que faz? Passa fome e fica a tarde inteira de cara amarrada. Que família feliz!

Oito anos se passaram e vejam só: a adolescência. O menino com espinhas na cara enquanto a menina masca chiclete, pedindo ao pai dinheiro para comprar a mini- saia da moda. “Tipo assim”. Que vacilo! Começa a gritaria. Os filhos apontam dedo para os pais, dizem que vão sair de casa, etc. Ninguém merece! Curtem uma balada e a mãe não gosta do namorado da filha. Uma grita de cá, outra se explica de lá, a filha diz que vai sair de casa pela trigésima vez, o filho não gosta de estudar... Essa é a família do século XXI.

Os gêmeos, com 26 anos de idade, já trabalham, Jurema, inclusive já saiu de casa, ganha bem, terminou a faculdade. Julião até hoje não sabe o que faz da vida, trabalha sem objetivos, ainda mora com os pais, deixa a mãe com o coração apertado quando chega tarde. Jurema então engravida do recém namorado, a mãe chora, o pai fica em silêncio e nove meses depois a garota dá à luz a Luíza. Cinco anos se passaram e Jurema dá o almoço para a filha, e a mesma diz: “Ai, não gosto”, “Ai, não quero.” Quem sabe macarrão com carne moída? “Ai, não gosto”, “Ai, não quero”.

No fundo, pais e filhos se merecem.

Na praça

Ainda lembro. Durante minha infância costumava ir à praça com meus pais. Lá, parecia que nada tinha sentido, era apenas o meu jeito de criar o universo. Crianças que sequer conhecia ou conheciam- me eram habitantes de um mundo que se perdia e redescobria- se dentro de mim. Meu mundo particular. Pais nos bancos, carrinhos de pipoca, algodão doce e a infância passada e sentida.

Que valor atribuía aquela praça. Não as areias sujas ou o estado ruim em que encontravam- se os brinquedos, mas o doce sabor de viver. Como era fácil fazer amigos e tê- los temporariamente, o mundo estava sob o domínio das crianças. Não havia noção do tempo, dos problemas e do dia que se esvai.

Hoje, cresci e envelheci. Ainda lembro. A praça atingiu um outro valor para mim, que foge aos olhos de uma criança. Lá sentindo a vida correr, percebia as brincadeiras, o lúdico. À noite, aquela praça, transformara- se no universo dos amantes, dos românticos ou não- românticos, aos beijos num banco de pouca iluminação. Envelhecer e sentir. Algumas noites ia àquele lugar e desfrutava dos belos e tensos beijos de amor e desejo. Havia muitos casais naqueles bancos. Alguns duravam apenas uma noite, duas, três e às vezes nunca mais os viam. Como era difícil encontrar algum vazio! O parque estava vazio, somente ocupado pelo passado de quem viveu ali. Enquanto os bancos eram objetos de desfrute para uma noite de sentimentos.

Sentava, beijava e em seguida, num movimento, olhava para o parque: Já não havia mais crianças ali.

Razão de ser

Sou a razão.
Mas meu “ser” me devora,
me leva ao chão,
mas paro e digo:
Sou a razão.

Digo não ao meu ser
que flagela e polui a razão.

Qual a razão do meu ser?
Ser e não ser?
Eis a questão.
O homem caminha como se conhecesse o tempo. Não teme o futuro, não lamenta o passado e não se equilibra nas suas próprias verdades. Paciente, vai tecendo o pensamento. Feliz?

O mundo o desfaz.

Desperdício

A vida é um desperdício.
Se pudesse jogava no lixo.
Entretanto, ela está latente, ardente às provocações de um ser
Que procura- se na ausência.
Entre a presença me faço viva, lixo transcendental,
é o próprio pensamento, que pela falta de inércia,
Transforma o desperdício na minha pulsação inesgotável.

Comédia nos contos de fadas

As mulheres estão à procura de um par perfeito. Mas encontrá- lo é algo que só as abençoadas pela fada madrinha conseguem. Mas elas não deixam de viver os contos de fadas.

Algumas mulheres agem como Bela Adormecida, só que ao invés de dormirem, estão embriagas e não é de amor, é de cachaça mesmo. Com este tipo de mulher não passa de uma noite. Exalam aquele cheiro e dançam na boquinha da garrafa. São muitos os espinhos percorridos em sua mente e feitiços de uma suposta piriguete.

Há as Cinderelas, que vivem perdendo o sapatinho de cristal, mas o príncipe ao colocar o delicado sapato chega grita, de tão feia que é a menina. E acabam devolvendo- a para madrasta, que namora um homem mais novo só para dizer que é a “tal”. E já vai para a quarta lipoaspiração.

Há também a chamada Rapunzel. Diferente da Cinderela, esse tipo de mulher é linda e sensual, mas não sai da sua torre interior, enquanto os homens tentam alcançá- la.

A Bela (de Bela e a Fera) é a mais desesperada de todas. Conhecem a Fera, casam- se, na expectativa que este vire logo um príncipe, mas até agora nada. Continua aquela fera rotando no sofá que compraram nas Casas Bahia. De que vale o seu castelo?

Chapeuzinho Vermelho adora uma aventura. Adoram um selvagem, namoram homem casado e ainda tem a cara de pau de enviar uma cesta de doces para a esposa do pseudopríncipe. Que olhos grandes ela tem!

Existem ainda as Brancas de Neve, que já comeram umas 10 maças envenenadas. E lá está o príncipe dando uns amassos na madrasta.

As mulheres gostam dos contos de fadas.
Quanto mais subia,

Mas percebia que havia fundo. Bem fundo.
E então caía.
Subia.
Caía.
E assim até o infinito.
E os degraus viravam labirintos.
Enquanto a vida continuava incessantemente sua subida.

sábado, 19 de novembro de 2011

A era e os outros

Ele era. Sua vida era sem forma e vazia. No princípio se fez carne, no trajeto se fez alma. Era João, era Tiago, era Jorge, era Marcos, era Maria José. Era branco, preto, pardo, era leopardo. Fugia dos estereótipos, mas era tão somente pela vista dos outros. E assim, se via no espelho. Dragão, jumento, cavalo, veado, rato, formiga. Ora feroz, ora inofensivo.

Ele fazia observações intempestivas acerca da existência. Se era humano, se era mais carne que alma ou vice- versa. Duvidava de tudo. Se amava, se sorria, se chorava, se era triste. Era gente? Pensava de fato, que sua alma fosse como a de um animal, se isso for possível, pensava: imprevisível. Sofria com suas próprias lâminas. Os cortes profundos do seu rugido. Da sua busca constante pela sobrevivência. Era besta e era fera.

Via corpos nus. Tocava corpos nus. Almoçava, cantava, dormia. Mas sentia- se como um animal, excluído por sua espécie. Observava os outros, fingia concordar com os outros. Lutava contra o medo, fugia da discórdia. Por quê ser gente? Queria mesmo que fosse um animal. Assim evitava seu lado humano. Quase que recorrente latia e miava, sem jamais ser compreendido pelos outros seres coabitantes do universo.

Quem era?

INCONGRUÊNCIAS

Nas incongruências da vida,
teci e desteci o espelho da alma.
Mas cada vez que me arracam e me quebram
os moldes fragmentam- se.

E desta forma, o que os outros vêem
são arquétipos boçais de avaliações primárias.
Os cacos e os pedaços ainda estão perdidos,
itinerantes desta prisão chamada alma.
E cada vez que me liberto, ela empurra- me para as grades, cria novos pedaços.
Teço, desteço, pinto, rabisco. Monto, desmonto.
E nem a alma sabe o que faz.
Só sinto os estilhaços.