sexta-feira, 15 de março de 2013

Autoestima

Fabiano acordou as 6h da manhã. Ainda devagar colocou sua mão no rosto e preguiçosamente levantou- se para o trabalho. Vestiu uma calça jeans, uma camisa polo e um rosto abandonado. Tomou café como quem pede disposição para mais um dia do calendário rotineiro.
Escovou os dentes, rezou, fechou a casa e partiu. Pegou o ônibus como simples cidadão brasileiro. Nem notava as pessoas a sua volta. Desceu do transporte e caminhou até o emprego. "Mais um dia", dizia ele em pensamento. Porém, seus dias eram sempre os mesmos. Se preocupava e tinha medo das palavras que os outros falavam pra ele. Não se sentia querido no trabalho, não puxava assuntos banais como futebol ou música, e assim, preenchia os documentos até as 17h. "Mais um dia", repetia Fabiano.
O que lhe dava mais medo eram as palavras que escutava e pousavam abruptamente em seu coração. Aos poucos foi ficando vazio e sem esperança. Aos 7 anos de idade ouviu de uma professora:
_ Você não é capaz!
E foi acreditando, mesmo que seus pais dissessem para não acreditar nesta bobagem. Aos 12 anos ouviu de um amigo que lhe dissera: _ "Burro". Tentava não armazenar essas palavras na sua vida, mas de alguma maneira seus sentimentos e fragilidades absorviam. E o consumiam. Fabiano passou a guardar as palavras ruins e transformá-la no seu dicionário. Ouviu das poucas namoradas que teve uma crítica ácida, gestos de abandono. E abandonou-se também.
_ É preciso autoestima, autoestima. - dizia o psiquiatra.
O problema não era ele exatamente. Mas sua alma inferiorizada que não o deixava acreditar em si mesmo. Saia do trabalho, pegava novamente o ônibus e seguia o caminho de volta para casa. Estava exausto da rotina, das palavras banais que entravam no seu peito como um urubu que procura a carne morta. Desceu do veículo antes de chegar a sua morada. E caminhou, caminhou, aproveitou e viu o mar, escutou o barulho das águas, olhou sua agenda telefônica no celular. Para quem poderia ligar? Sentou-se na calçada e por ali ficou durante algum tempo. Uma senhora curiosa passava por ali, quando parou e interpelou Fabiano.
_ Do quê você precisa?
_ Autoestima. - respondeu.