sábado, 19 de novembro de 2011

A era e os outros

Ele era. Sua vida era sem forma e vazia. No princípio se fez carne, no trajeto se fez alma. Era João, era Tiago, era Jorge, era Marcos, era Maria José. Era branco, preto, pardo, era leopardo. Fugia dos estereótipos, mas era tão somente pela vista dos outros. E assim, se via no espelho. Dragão, jumento, cavalo, veado, rato, formiga. Ora feroz, ora inofensivo.

Ele fazia observações intempestivas acerca da existência. Se era humano, se era mais carne que alma ou vice- versa. Duvidava de tudo. Se amava, se sorria, se chorava, se era triste. Era gente? Pensava de fato, que sua alma fosse como a de um animal, se isso for possível, pensava: imprevisível. Sofria com suas próprias lâminas. Os cortes profundos do seu rugido. Da sua busca constante pela sobrevivência. Era besta e era fera.

Via corpos nus. Tocava corpos nus. Almoçava, cantava, dormia. Mas sentia- se como um animal, excluído por sua espécie. Observava os outros, fingia concordar com os outros. Lutava contra o medo, fugia da discórdia. Por quê ser gente? Queria mesmo que fosse um animal. Assim evitava seu lado humano. Quase que recorrente latia e miava, sem jamais ser compreendido pelos outros seres coabitantes do universo.

Quem era?

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