sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Na praça

Ainda lembro. Durante minha infância costumava ir à praça com meus pais. Lá, parecia que nada tinha sentido, era apenas o meu jeito de criar o universo. Crianças que sequer conhecia ou conheciam- me eram habitantes de um mundo que se perdia e redescobria- se dentro de mim. Meu mundo particular. Pais nos bancos, carrinhos de pipoca, algodão doce e a infância passada e sentida.

Que valor atribuía aquela praça. Não as areias sujas ou o estado ruim em que encontravam- se os brinquedos, mas o doce sabor de viver. Como era fácil fazer amigos e tê- los temporariamente, o mundo estava sob o domínio das crianças. Não havia noção do tempo, dos problemas e do dia que se esvai.

Hoje, cresci e envelheci. Ainda lembro. A praça atingiu um outro valor para mim, que foge aos olhos de uma criança. Lá sentindo a vida correr, percebia as brincadeiras, o lúdico. À noite, aquela praça, transformara- se no universo dos amantes, dos românticos ou não- românticos, aos beijos num banco de pouca iluminação. Envelhecer e sentir. Algumas noites ia àquele lugar e desfrutava dos belos e tensos beijos de amor e desejo. Havia muitos casais naqueles bancos. Alguns duravam apenas uma noite, duas, três e às vezes nunca mais os viam. Como era difícil encontrar algum vazio! O parque estava vazio, somente ocupado pelo passado de quem viveu ali. Enquanto os bancos eram objetos de desfrute para uma noite de sentimentos.

Sentava, beijava e em seguida, num movimento, olhava para o parque: Já não havia mais crianças ali.

2 comentários:

  1. A música pode nos levar até lembranças já quase apagadas, o perfume nos trazer sensações que cintilam de cores nosso coração e a alma, mas o espaço é o que descreve de modo mais correto o que se passou e o que se passa dentro de nós. É uma narrativa de uma existência, quando voltamos a ter contato com o espaço que um dia já foi nosso, nos faz sentirmos imensos, porque resgatar as boas lembranças é a única maneira de nos completarmos de modo verdadeiro. E isso foi conseguido no seu belo texto!
    Abs,

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